CAPITAL INICIAL | Makila Crowley

CAPITAL INICIAL • 27/05/2016

CAPITAL INICIAL . 27/05/2016 . Estádio Monumental do Sesi . Blumenau/SC

Texto: Jonathan Rodrigues Ev
Fotos: Makila Crowley

 

Dia 27 de maio, sexta-feira, o Capital Inicial trouxe para Blumenau a turnê de divulgação de seu projeto mais recente, o álbum ao vivo “Acústico NYC”, lançado no final de 2015, que como o título entrega, é um disco que foi gravado em Nova York, onde a banda revisitou o formato acústico, após quinze anos do lançamento do bem sucedido “Acústico MTV”.

            O evento ocorreu na Arena Sesi, e contou com cerca de 3000 pessoas, que presenciaram um grande espetáculo. O local abriu pouco depois das 21h, o Capital Inicial iniciaria a apresentação próximo da meia noite. Durante esse período, Luciano Costa, radialista na Atlântida, que apresenta o Discorama, programa apenas com “clássicos do passado”, aqueceu a galera, com coisas como The Cure, New Order, Guns n’ Roses, Blur, Kiss.

Às 23h 45m, é feito o anúncio que de que o show começaria, com cada integrante adentrando o palco e dirigindo-se a seu posto. Começam com “Ressurreição”, essa originalmente do penúltimo álbum de estúdio até então, “Das Kapital”, de 2010. A banda é muito bem recebida pela plateia, que não poupou nos gritos, principalmente em relação ao vocalista Dinho Ouro Preto, que conforme cantava acenava para o público, que gritavam e acenavam de volta.

            Sem pausa, seguem com “A Mina”, som lançado apenas nesse projeto, e “Mais”, que ganhou uma pegada bem interessante, composta por violões no estilo “Rolling Stones de ser”. Ao final dessa, muitos aplausos, e Dinho cumprimenta a plateia, agradecendo todos pela presença, e explica o conceito do show, o qual está dividido em duas partes, na primeira sendo tocado quase na íntegra o show do “Acústico NYC”, que conta apenas com músicas de 2002 para frente, enquanto na segunda seriam tocadas as faixas mais antigas. Nesse momento mais gritos vindo da plateia, Dinho sorri enquanto espera estes cessarem, então prossegue dizendo que será uma noite especial com muito rock.

Bastou os minutos iniciais para perceber como a qualidade de som estava ótima, com cada detalhe executado no palco bem audível (e foram vários, visto os músicos de apoio, que serão detalhados mais para frente), de valer o ingresso mesmo, sem contar a excelente iluminação, e o bonito cenário do palco, composto por um plano de fundo mostrando alguns prédios característicos de Nova York, combinado com a iluminação, deixou o show com ares grandiosos.

A apresentação prossegue com a radiofônica “Depois da Meia Noite”, na qual Dinho levanta (nas três primeiras ele cantou sentado num banquinho, assim como os violonistas, bem tradicional no formato acústico). Aliás, ele passaria o resto da noite cantando em pé, se movimentando pelo palco. “Como Devia Estar” é a próxima, numa linha bem acústico rock.

A performance singular de Dinho merece um parágrafo a parte. Mesmo os “detratores” do trabalho dele devem admitir o quanto a sua energia é contagiante, realmente um carisma único, sempre sorridente, e claro, cantando muito o tempo todo. Difícil imaginar como o Capital Inicial seguiu durante aquele período dos anos 90 com outro vocalista.

“Doce e Amargo”, outra inédita nesse projeto, vem e seguida, com uns trechos que me remeteram a “Sultans of Swing”, do Dire Straits, e bons vocais de apoio de outros integrantes. Essa é outra característica desse show, todos, com exceção do baixista Flávio Lemos, fizeram em alguma música vocais de apoio. Em seguida, o que pessoalmente foi um dos grandes momentos da noite, “Respirar Você”, que ficou muitíssima interessante, um bom teclado comandado por Robledo Silva, e no trecho final um lance mais swingado, ganhando destaque a percussão realizada por Marivaldo dos Santos, inclusive referenciando “Rubão”, do Charlie Brown Jr., e não por acaso, pois Thiago Castanho, que fez parte do grupo, toca violão com o Capital nessa turnê.

Dinho conversa com o público novamente, fala entre outras coisas, que em “Respirar Você” teve essa referência a “Rubão”, e que o show tem vários desses pequenos detalhes. Em seguida, diz que a próxima tem uma introdução meio Beatles, então tocam “O Lado Escuro da Lua”, cujo título referencia um dos discos mais vendidos da história de outra banda inglesa.

Continuando, Dinho explica que por algum motivo, que muitas vezes nem eles sabem, algumas músicas com o passar do tempo são deixadas de lado, e que ficaram muito felizes quando a próxima que irão executar voltou a tocar no rádio, devido a regravação nesse novo acústico, continua, dizendo que essa se chama “Olhos Vermelhos”, então o palco inteiro fica com uma iluminação vermelha. Um som que funcionou muito bem ao vivo, parece até que foi composta pensando nesse formato acústico, até então, a música que obteve maior reação da plateia.

Antes de começar a próxima, Dinho a introduz como uma canção que fala de se manter positivo, diz que sabe que às vezes é difícil, ainda mais com todos esses acontecimentos, cita, nas palavras dele, aquele caso surreal de estupro daquela garota no Rio de Janeiro, os esquemas de corrupção dos políticos, fala mais alguma coisa, e segue dizendo que mudou o foco da conversa, e ensina o refrão da música para o público: “espero que hoje, seja melhor do que ontem”. Finalmente começam “Melhor do Que Ontem”, com os presentes entoando o refrão, deixando a Arena do Sesi com ares de culto de auto ajuda. Aliás, deu para perceber que dessa vez Dinho falou de improviso, pois ao contrário de quase todas as outras, falou mais rápido, e usando sua “marca registrada”, a palavra “cara” diversas vezes seguidas.

Seguindo, Dinho fala que na semana anterior ao show esteve doente, com dengue, e que Flávio Lemos também estava se recuperando, pois sofreu um acidente onde machucou a mão, mas que por sorte, o instrumento dele tem apenas quatro cordas, então daria conta de tocar sem problemas. Todo esse papo para Flávio Lemos introduzir “Como Se Sente”, que tem um clima bem dançante, meio pista de balada, meio indie rock “moderno”, com direito até a efeitos eletrônicos. Vale ressaltar que Flávio estava tocando um baixolão, instrumento que visualmente parece com os violões tradicionais, mas com quatro cordas, e produz um som grave.

Dinho fala que o “Acústico NYC” contou com algumas participações especiais, e que agora seriam tocadas músicas que Seu Jorge participou, começando com “Vai e Vem”, na qual Dinho também comenta da satisfação dela estar sendo executada nas rádios. O hit “À Sua Maneira” vem em sequência, sendo aclamada pelo público, que contou até com um momento “meio brega” com quase todos levantando os braços e os movimentando de um lado para o outro. Pessoalmente essa versão não me agradou, ficou muito simplificada nesse formato, ainda mais se comparada com a versão original, em espanhol, do grupo argentino Soda Stereo. Aqui cabe uma crítica para um recurso usado em exaustão em diversas passagens, pedais nos violões, causando distorção no som gerado pelos violões. Um efeito bem interessante, e acredito que não tão utilizado por aí, mas que em alguns (não muitos) momentos soou um tanto cansativo, ainda mais por sobrepor o som dos demais instrumentos.

A noite segue com o que pessoalmente seria o grande momento da primeira parte do show, “O Cristo Redentor”, som que mais destoou das demais, com uma sonoridade muito peculiar, com bons teclados de Robledo Silva, e violões de Yves Passarell, Thiago Castanho e Fabiano Carelli, sem falar da bateria de Fê Lemos, que nessa em específico ganhou maior destaque, pois como normalmente acaba acontecendo em acústicos, a bateria é tocada “no freio”, por assim dizer, o que ocorreu durante a apresentação.

A seguir, foram apresentadas as músicas que na gravação do acústico contaram com participação do Lenine, começando com a pop “Não Olhe Pra Trás”, bem recebida, não tanto quanto o que viria em seguida, “Tempo Perdido”, da Legião Urbana. Dinho a introduz contando que Lenine gostaria de cantar uma música que homenageasse o rock brasileiro, e que eles sempre pensam em Legião Urbana com uma das mais significativas bandas do Brasil. Ao falar isso, o público grita exaustivamente. Continuando, ele conta, que pelo menos lembrava assim, que a primeira vez que ouviu essa música foi em um bar em São Paulo, onde a Legião se apresentava, e o Capital estava na plateia. O local estava vazio, e então a Legião anuncia que tocariam uma música nova, e, nas palavras do Dinho, “caramba, todos ali ficaram de cara, que música incrível estávamos vendo surgir ali”. Sem dúvida, ver o Capital Inicial a tocar nesse formato foi um momento muito especial, afinal nem a própria Legião Urbana chegou a gravar ela no seu “Acústico MTV”. A iluminação ajudou muito aqui, no momento em que Dinho canta “mas deixe as luzes acessas”, uma enorme quantidade de luz se acendeu sobre o palco.

Depois disso, ainda restaria tempo para tocarem outra, no bom sentido, bem “popzera”, “Eu Nunca Disse Adeus”, e prestarem uma bonita homenagem ao Charlie Brown Jr., mandando “Me Encontra”. Nessa, Dinho apresenta Thiago, que inicia a canção com o “grito de guerra” do Charlie Brown Jr., do qual ele fala “Charlie” e o público complementa com “Brown”. Curiosamente, essa o Charlie Brown Jr. também não chegou a gravar no formato acústico, até porque esse som foi lançado anos depois do acústico deles.

A primeira parte do espetáculo é encerrada com “Quatro Vezes Você”, que ganhou uns riffs muito bacanas nos violões, sem falar no teclado bem colocado. A banda se retira, e Dinho avisa para ninguém sair ainda, pois só iam decidir o repertório da segunda parte e já voltariam, isso após mais de uma hora e meia de show, o que convenhamos, é o tempo de palco de muita banda por aí.

 

Menos de cinco minutos se passam e o grupo volta, começando essa parte das “velharias” com “Fogo”, numa versão bem agradável, que inclusive contou com um solo muito bom do Fabiano Carelli. Dão continuidade com “O Mundo”, deixando tudo num alto astral.

“Música Urbana” é a próxima, outra que funciona muito bem em formato acústico. Mais um belo momento da noite, e vale ressaltar, com Dinho ainda no pique, se movimentando bastante e cantando no mesmo nível do início. Ao final dela o percussionista Marivaldo dos Santos atira as duas baquetas que ele usou nesse som no outro lado do palco, fazendo elas passarem pelos demais membros da banda, não entendi se era para ser impactante, engraçado ou algo do tipo.

A clássica “Independência” vem em seguida, numa versão mais acelerada que a registrada no primeiro acústico, e com o Yves se levantando e tocando no centro do palco, inclusive na hora que solou o Dinho chegou ao lado dele e se ajoelhou, numa pose um tanto emblemática. Um parêntese, como o Yves é parecido com seu irmão, o baixista do Viper Pit Passarell. Antes de integrar o Capital Inicial, Yves tocava no Viper.

Dinho introduz a próxima, “Fátima”, contando como ficou impressionado com a letra tão bem escrita, composta por Renato Russo e Flávio Lemos nos tempos que faziam parte do Aborto Elétrico. O público acompanha e canta junto, inclusive com trechos onde o Dinho deixa apenas a plateia cantando.

A viagem prossegue com “Veraneio Vascaína”, numa versão sensacional, outro grande momento da noite. Ficou bem diferente da registrada no “Acústico MTV”, ganhando um toque especial graças aos excelentes vocais de apoio do Fê Lemos. “Natasha” vem em sequência, essa mais fiel ao registro do acústico, com a galera entoando os “thuru, thuru, thuru, thuru”.

O fim se aproximava, porém ainda houve tempo para outro discurso do Dinho, onde ele fala que pensaram em tirar a próxima música do repertório, mas que devida a situação em que o Brasil se encontra, é quase um dever cívico para ele continuar a cantando. Diz ainda que não interessa se você é esquerda ou direita, não há como estar satisfeito com os rumos da política no Brasil. Então mandam, é claro, “Que País é Esse?”, com boa participação dos presentes, sobretudo no refrão, complementando com o coro de “é a porra do Brasil!”. Yves se levanta novamente e faz um solo “cheio de pose”. Durante toda a música, Dinho estava com uma GoPro filmando tanto público quanto banda. Quem quiser ver o resultado da filmagem pode dar uma conferida no canal oficial do Capital no Youtube. Lá é explicado que essa câmera pertence a uma pessoa de um tal projeto Analógico.

Encerrando de vez, “Primeiros Erros (Chove)”, já deixando a plateia naquele clima de melancolia pós-show, combinando com o tempo frio e chuvoso daquela noite. A propósito, a percussão realizada por Marivaldo aqui merece menção.

Pouco depois das 2h 5m, passando de duas horas e quinze de show, os músicos se despedem, agradecem novamente a presença e recepção de todos, Dinho fala que espera não demorarem tanto tempo para voltar. Arrisco dizer que se depender de quem compareceu, e de como estes estarão por aí elogiando o que viram, podem vir que terão público garantido. Da parte da banda, analisando por este evento, espetáculo completo.

 

Setlist – Acústico NYC

Ressurreição
A Mina
Mais
Depois da Meia Noite
Como Devia Estar
Doce e Amargo
Respirar Você
O Lado Escuro da Lua
Olhos Vermelhos
Melhor do Que Ontem
Como Se Sente
Vai e Vem
À Sua Maneira
O Cristo Redentor
Não Olhe Pra Trás
Tempo Perdido
Eu Nunca Disse Adeus
Me Encontra
Quatro Vezes Você

Segunda parte

Fogo
O Mundo
Música Urbana
Independência
Fátima
Veraneio Vascaína
Natasha
Que País é Esse?
Primeiros Erros (Chove)

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