KORN | Makila Crowley

KORN • 21/04/2017

Texto: Jonathan Rodrigues Ev
Fotos: Makila Crowley


No dia 21 de abril, sexta-feira, o Korn tocou pela primeira vez em Curitiba, na Live (antigo Curitiba Master Hall), na sexta passagem do grupo pelo Brasil. Sem dúvida uma turnê muito especial, já que, como divulgado cerca de dez dias antes da tour, nesta vinda para a América do Sul, o baixista Reginald “Fieldy” Arvizu não pôde comparecer, devido a “imprevistos”, tendo sido substituído por Tye Trujillo, filho de ninguém menos que Robert Trujillo, atual baixista do Metallica. Até aí beleza, o cara seguindo os passos do pai. Porém, tem um detalhe que deixou a história bem inusitada: Tye tem apenas 12 anos! E não é que o garoto daria conta do recado.

            Passava uns minutos das 22h, quando as luzes se apagaram, e o tecladista Davey Oberlin adentrou o palco, seguido do baterista Ray Luzier. Após um breve instante apenas com os dois, onde Ray demonstrou um pouco do que faria ao longo da noite, “espancando” a bateria, ouviu-se uns riffs de guitarra, e finalmente os demais integrantes aparecem, mandando “Right Now”, numa performance cheio de energia, conquistando o público logo de cara, que berrou o refrão acompanhando o vocalista Jonathan Davis.

            Sem pausa, e praticamente na mesma pegada, “Here to Stay”, com alguns trechos mais amaciados pelos teclados de Davey. Em “Right Now”, a iluminação estava praticamente apenas em tons azulados, enquanto em “Here to Stay”, em tons de vermelho. A propósito, nessa o baixo de Tye ganhou maior destaque, sendo possível perceber que o moleque não estava brincando. Sensacional o ver tocando na mesma vibe do Korn, especificamente nesse som pulando e “bangueando” quase tanto quanto o guitarrista Brian “Head” Welch, e o Jonathan. De certa forma uma cena bem “fofinha”.


            Em seguida, Tye troca de baixo. O que ele estava usando até então possuía cinco cordas, sendo duas pretas, o que com certeza confundiu a plateia, parecendo que ele estava tocando um baixo com três cordas.

O pano de fundo do palco era revelado, exibindo a capa do álbum mais recente, “The Serenity of Suffering”, do qual saiu a próxima, “Rotting in Vain”, com todos aqueles elementos bem característicos da sonoridade desenvolvida pelo Korn nos primeiros discos, funcionando muito bem ao vivo, e ligeiramente mais pesada que a gravação de estúdio. Até então, o fundo do palco estava coberto por uma cortina, contendo o logotipo da banda.

            Continuaram com “Somebody Someone”, contendo aquele riff marcante que se repetiu por toda a canção, onde Ray e Tye fizeram um andamento muito bacana, cheio de groove, chegando no trecho final com maior peso, com Ray voltando a “bater” no seu instrumento. Como não poderia de deixar de ser, parte do público aproveitou esse e outros trechos de maior agressividade, para fazer alguns mosh pits, ou pular no ritmo da música, e conforme os músicos balançavam a cabeça.

            Dando uma acalmada no show, “Word Up!”, som originalmente do Cameo, regravado pelo Korn em 2004. Ao vivo, também ganhou mais peso que no estúdio, mesmo mantendo o ritmo dançante, com a galera levantando as mãos para cima no trecho que Jonathan cantou “Wave your hands in the air”.

No fim das contas, “Word Up!” serviu mais para intro de “Coming Undone”, numa belíssima execução, com Ray roubando a cena por completo, atirando uma das baquetas diversas vezes para cima (pelo menos duas vezes bem alto), pegando e continuando no ritmo, levantando algumas vezes também, ou seja, daquelas performances que dá gosto assistir. Ele fez isso em outras músicas, mas nessa em maior quantidade. Para se ter uma noção, no meio de “Coming Undone”, inseriram um trechinho “We Will Rock You”, do Queen, e Ray conseguiu adicionar algumas “batidas mirabolantes”, turbinando o negócio. Sem dúvida, outro ponto alto de conferir o Korn em ação, além de, claro, o “molequinho” no baixo, foi ver como Ray incrementou diversas canções, fazendo trechos (aparentemente mais complexos) que não estão nas gravações originais, sendo em boa parte o responsável pela banda ter soado mais pesada.

Seguiram com mais uma do “The Serenity of Suffering”, “Insane”, que iniciou com umas risadas “psicóticas” pré-gravadas. Ali foi possível conferir o guitarrista James “Munky” Shaffer realizando backing vocals, além de trechos com efeitos na voz de Jonathan, e mesmo alguns gritos meio que indo para o gutural. Também ficou audível uns efeitos eletrônicos, provavelmente comandados por Davey. Ainda em “Insane”, Brian teve um problema com a guitarra, sendo necessário trocar por outra durante a música, fazendo uma cara de “poucos amigos” ao pegar a substituta com um roadie.

Quanto a qualidade do som, não foi aquele som mais cristalino do mundo, mas estava tudo bem audível, no geral estava bom. Em alguns momentos bem pontuais (poucas vezes mesmo) ouviu-se uma ou outra microfonia, mas nada que tenha prejudicado o todo do espetáculo.


Após “Insane”, Jonathan cumprimentou o público, e falou algumas coisas em inglês (uma das poucas vezes que interagiu com a plateia, aliás, nem chegaria a apresentar a banda, posteriormente, fazendo apenas uma menção ao Tye). Perguntou se estavam se divertindo, agradeceu a presença de todos, pediu para a galera gritar, e para dizerem “fuck that”, servindo de começo para “Y’All Want a Single”, que foi cantada com todos os seus devidos “fuck” (segundo a Wikipedia, mais de oitenta). Nesse som, Brian e Tye pularam bastante. Enquanto Jonathan falava, Brian pegou um borrifador (com água?), e disparou-o nos outros integrantes, menos no Tye, e em algumas pessoas que estavam próximas do palco. Ele faria isso outras vezes durante a apresentação. E Munky deitou em cima de um amplificador, levantando apenas no começo de “Y’All Want a Single”.

Prosseguiram com “Make Me Bad”, que pessoalmente, deu uma quebrada no ritmo do show, esfriando bastante, de qualquer forma, bem recebida pelo público. Na sequência, “Shoots and Ladders”, contrastando com o som anterior, um dos grandes momentos, onde Jonathan tocou gaita de fole na intro, combinando com o seu visual, já que vestiu um kilt durante todo o show. Essa também teve um “instante catarse”, onde Brian e Tye ficaram lado a lado “bangueando”, enquanto Jonathan “balançava” na frente do seu pedestal. A propósito, é um pedestal bem distinto, inclusive tem até mesmo apelido, The Bitch, e foi confeccionado por H. R. Giger, sujeito que ficou conhecido por diversos trabalhos em vários campos da arte, entre eles, pela criação do visual dos alienígenas da franquia cinematográfica “Alien”.

Complementando “Shoots and Ladders”, emendaram um trechinho de “One”, do Metallica, que deve ter deixado o “papai Trujillo” bem satisfeito, vendo o “pirralho” tocar cheio de segurança e pose. Quem conseguiu observar o lado esquerdo do palco viu que Robert Trujillo ficou ali no canto o tempo todo, inclusive balançando a cabeça no ritmo das canções. Em alguns intervalos entre uma música e outra, Tye iria na direção dele, sendo possível perceber que conversavam alguma coisa. Não é todo o dia que se vê um integrante do Metallica discretamente no canto do palco, longe de qualquer holofote.


A noite prosseguiu com números solos. Todos, com exceção de Tye e Ray, se retiraram, com Tye realizando um breve solo, obviamente sendo ovacionado pelos presentes. E sim, impressionou ver um garotinho tão jovem demonstrando tanta confiança na frente de uma multidão, o que levanta a curiosidade de quanto tempo ele teve para ensaiar com a banda. Em seguida, se retirou, deixando o palco só para Ray, que comandou um potente solo, que aliás, passou voando, de tão bem conduzido que foi. Desnecessário elogiar Ray novamente.

Ray mal encerrou o solo, e já começou aquela batida de “Blind”, uma das que teve maior recepção. Crescendo aos poucos, entrando baixo e guitarras, até Jonathan fazer o “convite”, por assim dizer: “Are you ready?”. Um som perfeito para shows, fazendo surgir alguns mosh pits na pista.

Chegando ao final da primeira parte, “Twist”. Bem bizarra a experiência de ouvir Jonathan murmurando esse trava-línguas, sendo a intro para “Good God”, encerrando em alto nível, com direito a slaps do Tye, e Jonathan cantando de forma bem convincente o trecho mais raivoso do som.

Retiraram-se do palco, após apenas uma hora e cinco minutos de “pancadaria”. Alguns gritos de “olê, olê, olê, olê, Korn”, e em cerca de dois minutos retornaram, com um dos guitarristas tocando a melodia do coro que a galera fazia, até que iniciou o riff de “Falling Away From Me”, executada de forma impecável. Inclusive, quando acabou, parte do público começou a cantar a melodia da canção, com a banda entrando na “brincadeira”, Jonathan batendo palmas, permanecendo alguns bons segundos assim, coros de “oh oh oh” ecoando pelo Live.

A saideira ficou a cargo de “Freak on a Leash” (essa não poderia faltar), sendo interessante notar as camadas construídas com as guitarras e teclado. Jonathan agradeceu o público novamente, enquanto Brian, Munky e Tye (que tocou sem usar palheta), jogaram uma penca de palhetas para a plateia. Ray jogou várias baquetas, e até mesmo uma pele de bateria, que parecia autografada, que parou lá pelo meio da pista, e possivelmente foi despedaçada pelos que “agarraram” o trambolho.


Com as luzes do Live acesas, se retiram em definitivo. Munky ainda vai ao microfone para falar “obrigado, thank you so much”. No som ambiente, começou a rolar uma versão totalmente “WTF” de “Freak on a Leash”, uma interpretação numa linha meio jazz, meio Frank Sinatra, parece que saída diretamente de algum cassino de Las Vegas (!), comandada por um tal de Richard Cheese.

Enfim, uma noite divertidíssima, onde viu-se uma banda em grande forma, fazendo uma apresentação intensa, porém curta, em torno de uma hora e vinte minutos. Poderia ter sido incluído mais alguns clássicos, como “Clown”, e “Got the Life”, por exemplo, ou mesmo mais músicas do bom “The Serenity of Suffering”, já que provavelmente será ignorado por completo nas próximas turnês do grupo. O Korn vem mantendo esse mesmo setlist em outros países (incluindo o trecho de “One”), mesmo com o baixista titular, então não foi exclusividade da América do Sul esse repertório, com essa duração.

Vale ressaltar que o Live não chegou a lotar, mas estava com um bom número de pessoas. Esses que compareceram presenciaram um menino realmente talentoso, que “segurou as pontas” numa boa. Só resta mesmo aguardar alguns anos para descobrir qual a dimensão que a carreira do Tye ganhará. Depois do presenciado, fica difícil não pensar em algo grandioso. Afinal, quantos garotos existem por aí, que poderão colocar no “currículo” que foram o “quebra-galho”, de uma das mais bem sucedidas bandas do meio? Só para constar, a censura do show, para o público, era de 18 anos.

 

Setlist

Right Now

Here to Stay

Rotting in Vain

Somebody Someone

Word Up!

Coming Undone

Insane

Y’All Want a Single

Make Me Bad

Shoots and Ladders

Solo de bateria

Blind

Twist

Good God

Falling Away From Me

Freak on a Leash

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