RICHIE KOTZEN | Makila Crowley

RICHIE KOTZEN • 11/07/2017

RICHIE KOTZEN . 11/07/2017 . Teatro Ademir Rosa (CIC) . Florianópolis/SC

Texto: Jonathan Rodrigues Ev
Fotos: Makila Crowley

 

No dia 11 de julho, terça-feira, Richie Kotzen e banda se apresentaram pela primeira vez em Florianópolis, na turnê de divulgação de seu mais recente trabalho, o “Salting Earth”, lançado neste ano. Contudo, vale lembrar que essa não foi a primeira vez que Kotzen pisou em solo catarinense. Em 2009 se apresentou em Pomerode, com outra banda de apoio, num daqueles eventos que entraram para o “folclore local”.

            O evento ocorreu no Teatro Ademir Rosa (Teatro do CIC), que se mostrou um ótimo local para a apresentação, visto que é um local pequeno, com capacidade para cerca de 900 pessoas, possibilitando enorme proximidade da banda com toda a plateia. Aliás, público que compareceu em bom número, ocupando quase todas as poltronas do teatro.

Antes de a banda adentrar o palco, músicas bem variadas ecoavam no som ambiente, indo desde Alice in Chains e Audioslave, até UFO, Mountain e mesmo Traffic, que não são sons tão comuns nesses momentos. Pontualmente às 21h, as luzes se apagaram, e uma intro começou a sair pelos PAs, servindo de entrada para Kotzen, o baixista Dylan Wilson, e o baterista Mike Bennett.

A “brincadeira” teve início com “End of Earth”, primeira faixa do “Salting Earth”, uma “pancada” logo de cara. Que música, com aquele característico timbre da guitarra de Kotzen, potentes linhas de baixo do Wilson, ótimas levadas na bateria de Bennett, e ainda um refrão poderosíssimo, tudo bem grandioso ao vivo, inclusive com Kotzen realizando o primeiro de muitos dos solos que ocorreriam durante a noite, no trecho final, para deixar os presentes “embasbacados”, com tamanha tranquilidade que ele demonstrou tocando, até mesmo andando enquanto solava, como se estivesse executando alguma coisa simples e trivial. Resumindo, escolha perfeita para abertura do show.

Na sequência, “Socialite”, que seria a música mais antiga a ser executada, de 1994, onde foi possível notar toda a potência da voz de Kotzen, que felizmente permaneceu assim o espetáculo inteiro. Em “Socialite”, também rolou um trecho final instrumental, com os três “quebrando tudo”, com direito a Kotzen solando com a guitarra atrás da nuca. Não tem jeito, sempre é impressionante conferir a performance de Kotzen, ainda mais vendo ele tocar guitarra sem palheta.

 

Prosseguiram com “Meds”, outra do disco mais recente, onde Kotzen largou a guitarra, e sentou-se para tocar teclado, numa canção mais voltada ao soul, acalmando um pouco o clima. Como não poderia deixar de ser, cheia de groove, com Kotzen usando um pedal de distorção no teclado, e fazendo uns drives com sua voz. Quem acompanha os álbuns da carreira solo do Kotzen sabe que ele flerta constantemente com o soul e funk, das décadas de 60 e 70, então acaba sendo bacana ter espaço nos shows para alguns sons nessa linha.

Com a guitarra em mãos, mandaram “Go Faster”, extremamente bem recebida pela galera, seguida da bela “Love Is Blind“, contando com backing vocals no refrão, tanto de Wilson, quanto de Bennett, e claro, mais alguns “malabarismos guitarrísticos” por parte do Kotzen. A propósito, a qualidade de som estava excelente, tudo bem audível, inclusive os backing vocals.

Seguiram com a excepcional “Your Entertainer”, um dos pontos altos da apresentação. Grandes riffs, e uma linha de baixo extraordinária, com muito groove. Provavelmente para o público conseguir recuperar o fôlego, Kotzen voltou para o teclado, para tocarem “My Rock”, um som mais “light”, com grande apelo pop, diria que até mesmo radiofônico, que assim como muitas outras canções ao longo da sua extensa carreira, que sabe-se lá o motivo, nunca estiveram presentes no mainstream.

Aliás, em “My Rock”, houve uma cena deveras peculiar: um roadie ligou ventiladores no chão, primeiro para o Wilson, depois para o Kotzen. Quando o vento chegou no Kotzen, este deu um enorme sorriso, pediu para a plateia aplaudir o roadie, e ainda deu um tapinha nas costas dele. Quando terminou de cantar, falou aos risos, apontando para o ventilador, “that’s awesome gambiarra”, caindo de vez na gargalhada. A palavra “gambiarra” seria influência da namorada brasileira? Fica a reflexão.

Ainda no teclado, mantendo a linha pop, num ritmo mais ameno, “Cannon Ball”, com efeitos interessantes no pedal do teclado. Em seguida, Wilson e Bennett se retiraram do palco, para Kotzen tocar o trecho inicial de “I Would”, apenas com um violão. Logo, Wilson retornou com um violoncelo elétrico, e Bennett com um cajón (instrumento de percussão, em que o músico senta em cima, para batucá-lo) acompanhando Kotzen no restante de “I Would”. Wilson chegou a fazer uns solos “bem colocados” durante a canção, tanto com o arco, como apenas com os dedos.

Continuando com o formato acústico, e lento, que pode ter soado cansativo para algumas pessoas, “High”. Também iniciada apenas com Kotzen tocando violão e cantando, mas dessa vez os outros continuam no palco, inclusive Bennett cruzou as pernas em cima do cajón. E claro, boa parte do público cantou o refrão junto com Kotzen. Perto do final, Kotzen sentou por uns segundos na perna do Bennett, no maior clima de camaradagem, gerando risos na plateia.

Após o “mini-acústico”, Kotzen apresentou Bennett, então ele e Wilson se retiraram do palco, para Bennett iniciar um breve número solo com o cajón, nada muito memorável, até por ser um instrumento que não possibilita muitas variações. Na sequência, Bennett retornou para a bateria, realizando ali um solo mais interessante de se acompanhar.

Terminado o solo, Bennett começou a intro de “Fear”, sendo a deixa para Wilson, e Kotzen, finalmente com uma guitarra em mãos, retornarem. A soturna canção ganhou uma roupagem interessantíssima, permeada por solos do Kotzen, bem naquele espírito de jams, que deve ter passado dos dez minutos de duração.

Se aproximando do final, “Help Me”, numa versão absurdamente sensacional, com o baixo de Wilson roubando a cena, até o momento que Kotzen começou a solar com a guitarra, depois, indo para o teclado “brincar” com o pedal, voltando para a guitarra, e “quebrando tudo” de vez, com os três executando uma bela jam, em perfeita sintonia.

 

Antes de se retirarem, mandaram “This is Life“, mantendo o alto nível das anteriores, que iniciou com Kotzen no teclado, culminando com ele pegando uma guitarra e executando solos cheios de feeling, enquanto “passeava” de um lado para o outro do palco, chegando a interagir com o público acenando, e mesmo colocando novamente a guitarra na nuca, isso sem falar no excelente desempenho vocal, aliás, constante em toda a noite. Nessa vibe, deixaram o palco, após pouco mais de uma hora e meia.

Rapidamente, voltaram para a saideira, “You Can’t Save Me”, outra muito bem recebida pela galera, que vibrou muito, e com diversas pessoas filmando com seus telefones. Um encerramento um tanto quanto melancólico. De forma definitiva, se despedem, após mais de uma hora e quarenta minutos de música. Com as luzes do teatro acesas, rolou uma versão instrumental de “My Rock” no som ambiente.

Quem compareceu a outros shows do Kotzen ao longo dos últimos anos, percebeu que nessa turnê houveram algumas mudanças mais significativas, como o palco mais trabalhado, tanto na iluminação, quanto no backdrop “bonitinho”, com referência a capa do “Salting Earth”, e claro, pelo uso de teclado, que apesar de Kotzen utilizar com certa frequência em seus discos, e um pouco com seu outro “projeto”, o The Winery Dogs, não costumava trazer para as turnês, tanto que foi usado praticamente apenas em canções do “Salting Earth”. E nessa noite em específico, até que Kotzen interagiu razoavelmente com a plateia, seja agradecendo, ou pedindo para cantarem junto.

Sem falar da escolha do repertório, que definitivamente, no caso do Kotzen, sempre será uma tarefa ingrata, pois com tanto material (mais de vinte álbuns de estúdio), e ainda passagens pelo Poison, Mr. Big, e o próprio The Winery Dogs, sempre vai ficar coisa de fora. Pessoalmente, fiquei surpreso por terem limado “Fooled Again” e “Bad Situation”.

No fim das contas, um espetáculo bem satisfatório, que convenhamos, não se esperaria menos do Kotzen. E com o sentimento de que, na próxima passagem desse sujeito pelo Brasil, teremos a oportunidade de ver outra apresentação, com outras variações, mas com a certeza de continuar abismado, o vendo tocar e cantar como se estivesse brincando.

 

SETLIST

End of Earth
Socialite
Meds
Go Faster
Love Is Blind
Your Entertainer
My Rock
Cannon Ball
I Would
High
Cajón / Drum Solo
Fear
Help Me
This is Life
You Can’t Save Me

Os comentários estão desativados.