a-Ha | Makila Crowley

a-Ha • 15/10/2015

a-Ha . 15/10/2015 . Curitiba Master Hall . Curitiba/PR

Texto: Jonathan Rodrigues Ev
Fotos: Makila Crowley

 

No dia 15 de outubro, quinta-feira, o a-Ha tocou pela primeira vez em Curitiba, encerrando a passagem sul-americana da turnê de divulgação do mais recente trabalho, “Cast in Steel”, que iniciou com um show na Argentina, e contou com outros por diversas cidades brasileiras. Aliás, o grupo havia anunciando que após a turnê de 2010 encerrariam as atividades, mas ao que parece, mudaram de planos em definitivo. Na capital paranaense, o evento ocorreu no Curitiba Master Hall, com o público comparecendo em peso.

Ao adentrar o pátio da casa, uma cena impressionava: a quantidade de geradores montados, quatro, cada um mais ou menos no tamanho de uma van, criando expectativa, sobre o que os noruegueses haviam preparado.

Os portões foram abertos logo após às 20h. Conforme o público entrava, sentiam o que seria o grande problema da noite, o enorme calor dentro do Curitiba Master Hall. Algumas pessoas passariam mal durante o show devido a alta temperatura. Inclusive, antes mesmo de o show começar, a plateia puxou um coro de “liga o ar”. Enfim, antes do a-Ha entrar, músicas de diversos estilos ecoavam nos P.A.s, de “Rehab”, da Amy Winehouse, passando por “Toxic”, da Britney Spears, e ainda, algumas músicas eletrônicas, típicas de “baladinha”.

Próximo das 22h, o viral “Turn Down for What” era tocado, seguido de uma intro, para finalmente as luzes se apagarem e o a-Ha iniciar sua apresentação. Como não poderia deixar de ser, os primeiros a aparecerem no palco são os músicos de apoio, seguidos por Paul Waaktaar-Savoy e Magne Furuholmen, com o vocalista Morten Harket entrando por último, sendo o responsável pelos maiores gritos da plateia durante todo o show, destacadamente gritos femininos.

Começam com a faixa-título do “Cast in Steel”, o que a princípio poderia parecer uma escolha estranha para abertura, por ser uma composição nova, e num andamento mais tranquilo, porém funcionou bem, e claro, os gritos intensos e mãos levantadas com celulares filmando foram em maior quantidade nesse começo. Morten entrou usando óculos, e no final dessa música, tiraria, recolocando e tirando outras vezes durante a noite, ganhando gritos do público na maioria das vezes que realizava esse processo.

Continuam com “I’ve Been Losing You”. Próximo do final dela, naquela parte da “parada”, o tecladista Magne Furuholmen fala com o público, dizendo, em português, “boa noite Curitiba. Tudo bem? Nós somos a-Ha. Estamos muito felizes de estar aqui!”, em seguida, agora em inglês, pede para a galera levantar as mãos. Encerram a música com um ótimo solo de guitarra do Paul Waaktaar-Savoy, atmosférico, num estilo meio The Edge. Aliás, Paul visualmente lembrou muito o guitarrista do U2, pois usou uma touca a apresentação inteira.

“Cry Wolf”, com seu refrão grudento, e “Move to Memphis”, foram as próximas. Ambas ganharam um groove a mais ao vivo, com ótimas guitarras e cozinha. Sobre o motivo dos geradores lá no pátio: o grupo trouxe telões enormes que cobriram praticamente todo o fundo do palco, além de uma bela iluminação, tornado o show um grande espetáculo visual também. Em muitas músicas, os telões exibiam efeitos atmosféricos, outros que pareciam saídos dos Windows Media Player e Winamps da vida, e no caso de “Move to Memphis”, exibiu-se imagens de uma cidade, provavelmente Memphis (dã!), criando um ótimo clima. Tem que ser comentado como a qualidade de som estava ótima, e permaneceria assim até o final, com todos os instrumentos, efeitos, e vozes bem audíveis e claras.

Seguem com a nova “Mythomania”, essa cheia de efeitos eletrônicos, incluindo a bateria. Cabe aqui explicar a formação da banda ao vivo, que além do trio original, contou com outros três excelentes músicos:

 – Karl Oluf Wennerberg na bateria, com um kit contendo, além da parte acústica, uns pads eletrônicos. Na maior parte do show utilizou apenas as partes acústicas, em alguns sons alternou com os pads, e no caso de “Mythomania”, utilizou praticamente só a parte eletrônica;

 – Even Ormestad no baixo. Em alguns trechos, também tocou um pequeno sintetizador. Curiosamente, essa é a volta de um baixista acompanhando o a-ha no palco, pois realizaram a turnê anterior sem nenhum (pelo menos que tenha utilizado o baixo como instrumento principal). Certamente fez uma grande diferença para deixar o som “mais completo”, por assim dizer. Even toca na banda de jazz experimental Jaga Jazzist, com uma sonoridade bem peculiar, e inclusive, já participou de uma autêntica banda de black metal norueguês, a Malignant Eternal;

 – Erik Ljunggren no teclado de apoio, backing vocals, e cuidando da programação de efeitos. Tem no currículo, entre diversos projetos, uma passagem considerável pela banda de industrial Zeromancer.

Voltando ao espetáculo, hora de um dos grandes clássicos do grupo, a balada “Stay on These Roads”, que causou grande comoção na plateia, e ficou mais interessante ainda na forma como foi tocada. Na sequência, o que pessoalmente seria o ápice do show, a intensa performance do grupo em “Scoundrel Days”, ampliada com a iluminação e imagens dos telões. Vale mencionar como Morten está com a voz em ótima forma (julgando a reação do público feminino, não apenas a voz), e nessa faixa ele foi o grande destaque. Não houve nenhum momento com solos exclusivos de guitarra ou bateria, o que fez com que todos ficassem o tempo todo no palco.

Falando em “Scoundrel Days”, os noruegueses tocaram seis das dez músicas desse álbum. Quem conhece o a-Ha apenas por um hit ou outro, e está afim de conhecer um pouco mais, esse disco é uma excelente escolha. Estranhamente, a princípio não tocarão nessa turnê “Manhattan Skyline”, que justamente se tornou uma das canções mais bem sucedidas desse álbum.

Efeitos de trovões são a deixa para “Crying in the Rain”, outra bela balada, que ganhou um forte teor emocional, incrementada com um solo de Paul cheio de feeling, que trocou de guitarra nela, utilizando uma com slide. “Crying in the Rain” também criou um grande contraste com o ambiente da casa, pois a letra e efeitos de chuva diferenciavam do forte calor dentro do Curitiba Master Hall, que infelizmente prejudicou (e irritou) os presentes, ainda mais com casa cheia. A propósito, o público que compareceu parecia bem variado, de diversas idades, com o feminino possivelmente em maior quantidade, visto que a fila para elas entrarem no Curitiba Master Hall estava mais lenta. Quem estava mais perto do palco levou uma boa quantidade de cartazes, alguns com frases escritas em português e norueguês, como “bem-vindos a Curitiba”, “nós amamos vocês”, entre outras. Até balões levaram, o que pode ter incomodado quem estava mais para trás, sobretudo na hora que a maioria erguia-os ao mesmo tempo.

Quanto a comunicação com o público, Magne basicamente foi o único que falou com a plateia, pediu para todos cantarem, inclusive apresentou a banda. Morten também chegou a falar, porém poucas vezes, e em inglês. Num momento ele diz, meio que num tom de brincadeira, que não estava conseguindo se ouvir (parece que ele teve problemas com retorno, pois algumas vezes ele foi para o canto do palco falar com alguém da equipe técnica, levando uma das mãos na orelha). Posteriormente fala que já esteve antes em Curitiba, no ano de 1989. Pelo que pesquisei, ele esteve na cidade para visitar a sede de uma ONG, mas não tenho certeza dessa informação.

Outra grande passagem do show se deu na mais recente “Foot of the Mountain”, com Paul tocando violão, seguida de “You Are the One”, que ganhou uma versão completamente diferente da gravação de estúdio, numa roupagem “menos anos 80, mais século XXI”. “You Are the One” começou apenas com Morten cantando e Magne emulando sons de piano no teclado, posteriormente o resto do grupo acompanhou os dois, numa versão realmente bacana. Vale comentar que Magne e Paul fizeram backing vocals em diversas canções, como nessa, deixando os refrãos mais grandiosos.

Encerrando a primeira parte, outra faixa com grande teor emocional, e enorme reação dos presentes, “Hunting High and Low”. Nessa, Paul novamente toca violão, Even Ormestad troca o baixo por um pequeno sintetizador, os telões exibem imagens de estrelas no espaço, combinando perfeitamente com o som. No final dela, Magne e Morten viram seus microfones para o lado do público, que faz um enorme coro em uníssono. Nessa “vibe”, deixam o palco pela primeira vez, após 1h e 10m.

Em seguida, algo curioso: a plateia começa a gritar por “Take on Me”, que ganha mais destaque que o próprio nome do grupo. Menos de dois minutos depois, voltam com “The Sun Always Shines on T.V.”, com imagens mais que especiais nos telões, molduradas dentro de modelos antigos de televisores, mostrando fotos de diversos pontos de Curitiba, como o Jardim Botânico, Feira do Largo da Ordem, Ópera de Arame, entre outros. No final, os telões mostrariam uma mensagem de “we love you, Curitiba”.

Mais uma do “Cast in Steel”, “Under the Makeup”, e “The Living Daylights”, dão continuidade. No final de “The Living Daylights”, Magne novamente pede para todos cantarem, mas dessa vez vai para o centro do palco, ficando no lado de Morten e Paul, enquanto a galera cantava o pegajoso refrão. Eis que Morten surpreende a todos ao ler um cartaz de uma pessoa que estava próxima da grade, que dizia algo em torno de que era aniversário da pessoa, e pedia para tira uma foto, pois ele desce do palco, e vai até a grade tirar uma foto com a fã. Que isso não vire tática de comoção…

Novamente se retiram do palco, com muitos aplausos e gritos pedindo “Take on Me”, que seria a saideira. Basta Karl Oluf Wennerberg iniciar a característica batida do hit, seguido do marcante teclado de Magne, para a multidão vibrar e gritar. O show se encerra nesse clima de “baile nostálgico dos anos 80”, por volta das 23h 35m.

No fim das contas, uma excelente apresentação, um espetáculo propriamente dito. O a-Ha é daqueles grupos em que praticamente tudo que é apresentado ao vivo fica mais interessante. Espero que lancem material de alguma coisa que teve ou ainda terá dessa turnê, pois vale a pena deixar registrado esse ótimo período.

 

Setlist

 

Cast in Steel
I’ve Been Losing You
Cry Wolf
Move to Memphis
Mythomania
Stay on These Roads
Scoundrel Days
Soft Rains of April
Crying in the Rain
We’re Looking for the Whales
The Swing of Things
Foot of the Mountain
You Are the One
Sycamore Leaves
Hunting High and Low
The Sun Always Shines on T.V.
Under the Makeup
The Living Daylights
Take on Me

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