ANGRA | Makila Crowley

ANGRA • 12/06/2015

OLDER JACK, DESERTA, PROJECT46, ANGRA . 12/06/2015 . Rivage . Blumenau/SC

Texto: Jonathan Rodrigues Ev
Fotos: Makila Crowley

 

Dia 11 de junho, quinta-feira, marcou o retorno do Angra a Blumenau, após 14 anos. A banda tocou pela primeira vez na cidade em dezembro de 2001, na finada Cervejaria Continental. Dessa vez, o evento ocorreu na Rivage, e contou com o Project46 (pela primeira vez na região), e as bandas locais Deserta e Older Jack. Uma noite marcada por excelentes músicos, e diversos contratempos.

            Para começo de conversa, a abertura da casa estava marcada para às 19h, com a Older Jack iniciando as apresentações às 19h 30m, e o Angra tocando às 23h. Na prática, devido a alguns problemas com equipamento, as passagens de som atrasaram, e o público adentrou a Rivage depois das 20h 45m. Inclusive, foi possível ouvir em alguns pontos da fila a passagem de som do Angra, já tendo uma “palinha” do que viria em algumas horas.

            Vale ressaltar que as dependências da Rivage foram divididas em pista, pista vip e camarotes, e que a pista vip estava exageradamente grande, ocupando provavelmente cerca de um terço de toda a pista, e até o final da noite, não ficaria ocupada nem pela metade, deixando um vazio no meio da plateia. Aliás, mesmo a pista “comum” não ficaria tão preenchida, deixando os shows para um público mais modesto, em quantidade.

            Finalmente, por volta das 21h 20m, a Older Jack começa sua apresentação. Formada a cerca de dez anos, em Pomerode, este excelente grupo mostrou um heavy tradicional muito bem tocado, começando com “Balls to the Wall”, originária dos alemães do Accept, mostrando ali qual é a “onda” deles, com guitarras potentes comandas por Hermann Wamser e Deived Wachholz (que fez boa parte dos solos), backing vocals do baixista César Rahn, e ótima performance do vocalista Carlos Curt Klitzke, com direito a muitas caretas e “caras feias”, de literalmente, “virar os olhos”, claro, sempre “metal”, com todos naquela postura das bandas clássicas do estilo.

 

Tocaram duas musicas próprias, “Metal Über Alles” e “Macumba”, com o grande diferencial de serem composições com letras em alemão, o que torna a sonoridade do grupo mais interessante ainda. Também mandaram “Victim of Changes” do Judas Priest, e encerrando, uma boa versão de “Seek & Destroy” do Metallica. O som estava bom, com todos os instrumentos bem audíveis, o que não se manteria nos próximos shows. Infelizmente, devido aos atrasos, tiveram duas músicas cortadas do seu repertório, o que ocorreria com todas as outras bandas (no fim do texto o setlist completo dos shows, incluindo as músicas que foram cortadas). O show durou apenas 35 minutos, mas visto o horário, parece que não haveria alternativa. Resumindo, problemas que geraram mais problemas. De qualquer modo, mostraram seu recado, e para quem gosta de metal nessa linha tradicional, vale a pena conhecer o material do grupo, ainda mais se você compreende alemão.

Cerca de quinze minutos depois, é concluída a troca de palco e a Deserta sobe ao palco. Banda de Jaraguá do Sul, conhecidíssima na região, fazem um hard rock cheio de energia, inclusive com figurino inspirado na cena glam dos anos 80, digno da Sunset Strip daquela década. Iniciam com duas composições próprias, “Não Ouse Parar” e “Tudo a Perder”. Nesse começo, a guitarra do Thirray Priester estava um pouco saturada, e o vocalista Uly Penso teve alguns problemas com microfonias, que foram amenizados conforme o show prosseguia, porém, a voz dele continuaria um pouco abafada pelos instrumentos, o que acabou prejudicando um pouco, principalmente as músicas próprias, cantadas em português.

            “Livin’ on a Prayer” do Bon Jovi, e “Luzes”, outra composição do grupo, foram as próximas. “Luzes” é, até agora, o “clássico” da banda, um excelente som, que quem os acompanha provavelmente já fica na espera desse momento da apresentação. Nessa noite, Uly Penso dedicou ela ao pessoal do Fortaleza Rock Festival, festival que ocorre em Blumenau há alguns anos, cujo algumas pessoas da organização estavam presentes.

Na sequência, a maior reação da plateia até então, “Thunderstruck” (não preciso dizer de quem é né?), com Uly Penso pedindo para a galera gritar, e após os gritos, ele fala que está fraco para Blumenau, para em seguida saírem mais gritos do público, e com maior potência. Continuam com “Welcome to the Jungle”, tão bem recebida quanto a anterior. O grande destaque é Uly Penso, que durante esses sons colocou um chapéu de policial, e fez uma performance contagiante, chegando a imitar as “dancinhas” de Axl Rose em “Welcome to the Jungle”.

            A autoral “Eu Ando Louco”, e “Addicted to That Rush”, do Mr. Big, encerram o set deles, que também teve duas músicas cortadas. O show durou 35 minutos, suficientes para mostrarem seu bom trabalho. Vale ressaltar que para quem não gosta do estilo, possa ter soado um pouco cansativo, mas penso que é justamente isso que torna um evento desse porte mais interessante, não trazer apenas bandas com sonoridades idênticas entre si. Agora, restava aguardar a preparação do palco para o Project46, e o relógio marcava 22h 45m.

Eis que por volta das 23h 10m o Project46 adentra o palco da Rivage, com “Desordem e Progresso”, do álbum mais recente do grupo “Que Seja Feita a Nossa Vontade”, lançado em 2014. A banda foi formada em 2008, em São Paulo, e desde então vem ganhando elogios, e conquistando números consideráveis para o padrão de bandas nacionais de metal, ainda mais levando-se em conta que o grupo optou por fazer a maioria das músicas em português. Musicalmente, o fazem um som pesado, como o público presente conferiu, não recomendado para ouvidos sensíveis. Muitos pela internet os classificam como metalcore, mas isso serviria apenas para simplificar, e de forma equivocada, visto que transcendem facilmente esse subgênero, tanto que o vocalista Caio MacBeserra praticamente não utiliza vocais limpos, e no geral não poupam no peso.

            Voltando ao show, eles foram quem mais enfrentaram problemas nessa noite em cima do palco. O som realmente não ajudou, estando a maior parte do tempo embolado, com as guitarras de Jean Patton e Vini Castellari mais altas que os demais instrumentos e vocais, deixando a voz de Caio MacBeserra com menos imponência, ficando muitos trechos confusos, como nos diversos gritos, e no uso da técnica vocal pig squeal. O maior problema acabou sendo o modo como cada guitarra saía em um P.A. de cada lado do palco, resultando que quem estava mais para esquerda ouvia muito mais alto uma guitarra que os demais instrumentos, e quem estava no lado direito teve o mesmo problema ouvindo a outra guitarra mais alta que o resto.

Durante a execução de “Vergonha na Cara”, a casa não aguentou a “potência” deles, e acabou acontecendo uma queda de energia, que ocasionou um apagão, até o gerador ligar. Óbvio que o público deu uma “zoada”, e os músicos ficaram com aquela cara de “que bosta”. Energia retomada, o show continua, nas mesmas condições de antes.

            Parte da plateia interagiu com a banda, com moshs sendo formados tanto na pista comum quanto na pista vip. Encerram com “Acorda Pra Vida”, que pessoalmente, o melhor momento da apresentação deles, uma faixa longa com trechos mais cadenciados, inclusive com violões pré-gravados no final dela. Com muitos aplausos, se despedem do público, Caio pergunta quem estava ali para assistir o Project46, e quem veio para ver o Angra, em seguida fala que espera voltar em breve, tocando o set completo na próxima. Também tocaram por cerca de 35 minutos, isso incluindo a pausa ocasionada pelo apagão. No final do texto, o setlist preparado para aquela noite, que teve duas músicas cortadas por causa do tempo.

 

Palco sendo preparado para o Angra, que vem divulgando seu mais recente álbum, “Secret Garden”, que oficializou essa formação no estúdio. Pouco depois da meia-noite, uma pessoa da equipe do grupo vai a um microfone no palco, falar que a banda pede desculpa pelo atraso, que a produção local teve problemas que ocasionaram esse transtorno, mas que em breve o Angra tocaria. Então, por volta da 00h 25m as luzes se apagam, uma intro ecoa pela Rivage, anunciando o início da atração principal.

Bruno Valverde, o “novato”, é o primeiro a adentrar o palco, seguido por Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt e Felipe Andreoli, que entram ao mesmo tempo, para abrirem com “Newborn Me”, do “Secret Garden”. Desnecessário dizer o quanto a plateia grita com a chegada de cada integrante, e claro, quando Fabio Lione aparece e começa a cantar. Pessoalmente, achei “Newborn Me” uma excelente escolha para abertura, uma faixa que contempla de forma eficiente qual é a atual sonoridade adotada pela banda, contendo trechos que merecem menção, como quando Felipe Andreoli (que utiliza um baixo de seis cordas) faz um solo, seguido por Rafael Bittencourt, que troca rapidamente de guitarra, utilizando outro modelo, para realizar um solo acústico.

            “Acid Rain” e “Spread Your Fire”, são as próximas. Vale ressaltar, como quem já conferiu um show do Angra sabe, que o grupo é extremamente fiel ao material gravado em estúdio, usando em muitas partes sons pré-gravados para completar a execução ao vivo, como a intro de “Acid Rain”, por exemplo, trechos com teclados em quase todas as músicas, entre muitos outros. Claro que Fabio Lione não tenta imitar os vocalistas anteriores que passaram pela banda, e é aí que se tem um atrativo a mais para conferir a performance deles.

            Infelizmente, também tiveram problemas com o som, sendo, assim como o Project46, o mais grave as guitarras, estando mais altas que os demais instrumentos, e quem estava mais para o lado esquerdo ouviu muito mais alto a guitarra do Kiko Loureiro, enquanto quem estava mais para a direita ouvia a guitarra do Rafael Bittencourt sobrepondo o resto. No meio disso, o baixo do Felipe Andreoli se perdeu por alguns instantes, bem como algumas “batidas” feitas pelo Bruno, sem contar que a voz do Fabio Lione acabou ficando embolada algumas vezes, por vezes quase inaudível. Uma pena.

            Enfim, prosseguem com “Lisbon”, vindo uma enorme reação da plateia, sobretudo quando Lione pediu para o público cantar junto, apontando o microfone para a galera, e posteriormente, levantando os braços. Na sequência, as novas “Perfect Symmetry” e “Storm of Emotions”. E como “Storm of Emotions” soou bem ao vivo, que mesmo com os problemas no som (nessa faixa, principalmente com a voz de Fabio), mostrou-se uma das mais “fortes” do “Secret Garden”, merecendo continuar no set depois dessa turnê.

Um momento muito marcante da noite viria em seguida, onde Lione pergunta se todos ali sabiam que Christopher Lee havia falecido (o lendário ator / cantor faleceu no dia 7 de junho), então ele fala que teve a honra de trabalhar com ele quando estava no Rhapsody of Fire, pede aplausos para ele, e dedica a próxima canção a sua memória, sendo “Angels Cry”, tendo a maior reação do público até então. Uma sincera e bonita homenagem.

Aliás, a banda interagiu com o público em quantidade considerável. Todas as vezes que Fabio Lione conversou com a galera, falou em português, com pouco sotaque. Uma situação engraçada ocorreu quando Rafael Bittencourt cumprimentou a plateia, e começou a fazer um coro de “fica Kiko”, repetido pelos presentes, em referência a possível saída (mesmo que temporária) de Kiko da banda, já que nesse ano ele passou a integrar o Megadeth.

Seguem com “Final Light” e “Holy Land”, essa com mais recursos pré-gravados que as demais, visto que foram reproduzidos piano e sopros da gravação original, e ainda contou com o que pareciam ser algum tipo de chocalho, tocados por Kiko, Rafael e Felipe nos trechos de piano e voz, que ficaram fazendo umas coreografias muito bacanas.

Após “Holy Land”, todos, com exceção de Bruno Valverde, deixam o palco, para este realizar um solo, e mostrar alguns dos motivos de porque ter entrado para o Angra. Um solo curto, que arrancou merecidíssimos aplausos. Interessante também é a forma como ele toca, segurando as baquetas de forma pouco convencional para bateristas de metal, utilizando a técnica traditional grip.

Com todos de volta, mandam “Nothing to Say”, com coreografias divertidíssimas, e “Waiting Silence”. Agora, apenas com Lione no palco, ele faz outra homenagem para Christopher Lee, dessa vez cantando trechos de uma ópera que ele diz que Christopher Lee gostava muito, ganhando de vez o público.

O final se aproximava, vindo ainda “Angels and Demons”, “Black Hearted Soul” e “Rebirth”, essa com Rafael Bittencourt tocando novamente aquela guitarra acústica do início. Encerrando de vez em grande estilo, “Carry On” e “Nova Era” (com solos grandiosos de Kiko Loureiro, não que algumas das faixas anteriores também não tivessem), sem pausa entre elas, e como não poderia deixar de ser, com a maior reação da plateia na noite. As luzes são acessas, e os músicos se despedem, e começam a apertar a mão de quem estava na pista vip e se aproximou deles, isso beirando às 2h. Inclusive Rafael pega um celular de uma pessoa do público, e filma a galera por alguns instantes.

Deve-se mencionar ainda como a banda entregou uma performance energética, Fabio Lione então, tem uma excelente presença de palco, sabendo muito bem como conquistar uma plateia. A iluminação também contribuiu para tornar o show mais grandioso. Como curiosidade, deixaram ligado um ar-condicionado que “congelou” parte da pista vip, meio desnecessário. De pontos negativos, como citado anteriormente, os atrasos, que acabaram ocasionando cortes de todos, inclusive do Angra, que mesmo estando no setlist, não executou uma passagem acústica, onde Rafael Bittencourt tocaria sozinho “Reaching Horizons” e “Silent Call”. Fica aquela sensação de que poderia ter sido muito melhor se não tivessem ocorrido tantos problemas técnicos, ou mesmo, que presenciamos shows incompletos. De qualquer forma, tomara que não levem mais 14 anos para darem as caras por esses lados novamente.

 

PS: deixo aqui os pêsames aos entes queridos do Christian Alexander Ramos, que foi gerente do Curitiba Master Hall, e da loja BluRock, cujo tanto membros do Angra quanto do Project46 falaram durante suas apresentações, que ele estava internado num hospital em Blumenau, precisando de doação de sangue, pedindo doadores. Christian faleceu no dia 15 de junho.

 

Setlists

OLDER JACK

Balls to the Wall
Metal Über Alles
Victim of Changes
Macumba
War Pigs (CORTADA)
In Namen des Geldes (CORTADA)
Seek & Destroy

 

DESERTA

Não Ouse Parar
Tudo a Perder

Livin’ on a Prayer
Luzes
Thunderstruck
Welcome to the Jungle
Eu Ando Louco
Hot for Teacher (CORTADA)
Addicted to That Rush
Gigolô (CORTADA)

 

PROJECT46

Desordem e Progresso
Vergonha na Cara

Em Nome de Quem?
Impunidade
Capa de Jornal
Violência Gratuita
Acorda Pra Vida

 

ANGRA

Newborn Me
Acid Rain

Spread Your Fire
Lisbon
Perfect Symmetry
Storm of Emotions
Angels Cry
Final Light
Holy Land
Solo de bateria
Reaching Horizons (CORTADA)
Silent Call (CORTADA)
Nothing to Say
Waiting Silence
Angels and Demons
Black Hearted Soul
Rebirth
Carry On / Nova Era

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