BRUCE DICKINSON & ORQUESTRA | Makila Crowley

BRUCE DICKINSON & ORQUESTRA • 19/04/2023

Bruce Dickinson Celebration Jon Lord’s Concerto for Group and Orchestra and The Music of Deep Purple . 19/04/2023 . Teatro Positivo . Curitiba/PR
Texto: Jonathan Rodrigues Ev

Fotos: Makila Crowley
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Na quarta-feira, 19 de abril de 2023, o público conferiu em Curitiba um projeto com uma proposta bem diferente do comum, simplesmente Bruce Dickinson acompanhado por outra banda excelente, e uma enorme e potente orquestra, executando um tributo ao influente Jon Lord e o seu Deep Purple.
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Quem compareceu ao teatro Positivo, cuja capacidade é para cerca de 2400 pessoas, que ficou completamente lotado, presenciou algo bem diferenciado e inesquecível. A orquestra com cerca de 80 músicos, regida por Paul Mann, se fundiu a banda para um espetáculo dividido em duas partes.
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A primeira tratou-se da íntegra da peça “Concerto For Group And Orchestra”, obra que saiu da mente de Jon Lord há mais de cinquenta anos atrás, e que se mostrou muito interessante ao vivo. A segunda parte contou com alguns números da carreira solo do Bruce, e muitos outros clássicos do Deep Purple, com essa roupagem um tanto épica por serem executados juntos a uma orquestra desse nível.
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Por volta das 21:06 as luzes no teatro se apagaram, e alguns minutos depois os músicos adentraram o palco, o que foi uma cena que já impressionou, afinal, aquele palco enorme pareceu pequeno com tanta gente o ocupando.
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A orquestra executou uma pequena intro, e logo Bruce Dickinson entrou no palco, causando grande comoção no público. Ele falou, em inglês, qual seria a dinâmica da apresentação daquela noite, na qual “não é uma banda acompanhada por uma orquestra, são banda e orquestra unida”, além de apresentar os músicos da banda e o regente Paul Mann.


Eis que Bruce se retirou do palco, e a orquestra começou a tocar o primeiro movimento do “Concerto For Group And Orchestra”, que é totalmente instrumental. Os primeiros dez minutos foram compostos apenas com a orquestra, o que já impressionou, pois com tanta gente no palco, ficou até difícil entender “quem estava tocando o que?”, ou “de onde veio isso?”, por assim dizer.
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Passado esses dez minutos, a banda entrou em ação, o que deixou tudo mais grandioso, pois toda aquela atmosfera que a orquestra estava criando foi invadida pela parte “pauleira” da banda, e ficou bem clara aquela fala inicial do Bruce, pois não foi apenas a orquestra servindo de apoio para a banda, e nem mesmo a banda emulando algo “erudito”, e sim a junção desses dois universos.
Vale ressaltar que quando a banda entrou no movimento, o som feito por eles ficou mais alto e imponente, até chegar no solo de guitarra do Kaitner Z Doka, aliás, um belíssimo solo, pois após esse solo, a orquestra voltou a crescer, culminando num final apoteótico e bem “barulhento”. E isso foram apenas os primeiros vinte minutos do concerto.
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Após os aplausos da plateia, a orquestra iniciou o segundo movimento da peça, num tom bem mais melancólico, e triste mesmo. Cerca de cinco minutos nesse clima, para finalmente Bruce voltar para o palco e cantar por um breve trecho, e não teve jeito, ele roubou a cena com sua performance dramática, praticamente um lamento sendo declamado de forma muito performática, com aqueles trejeitos e postura de palco tão característicos dele, nessa noite sendo presenciadas num contexto totalmente diferente do habitual, mas com a excelência de sempre.
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Concluindo o segundo movimento, já sem o Bruce no palco, um grandioso solo de teclado do John O’Hara, que aliás, atualmente também toca no Jethro Tull, outra banda que Bruce tem um grande apreço. Legal reparar nesse solo que o John O’Hara executou, em como o Jon Lord tinha uma sonoridade característica, em que mesmo com todos esses elementos da orquestra, ao ouvir o teclado se associa diretamente com o trabalho que ele realizava.


O movimento foi finalizado de forma oposta ao modo como o primeiro terminou. Nesse, os instrumentos foram “sumindo”, até restar apenas o silêncio, sendo preenchido pelos aplausos do público.
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Chegava então o terceiro e último movimento do “Concerto For Group And Orchestra”, esse também totalmente instrumental, e se analisado pela ótica “fusão entre banda e orquestra”, o mais notável deles, onde se criou um amálgama sonoro poderoso, com direito até mesmo a um solo de bateria do Bernard Welz, de duração considerável, e que ainda assim casou com todo o resto do que ocorreu durante a faixa.
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Dessa forma se encerrou a primeira parte do show, com todos os músicos se retirando do palco, e uma voz anunciando, em português, que haveria um intervalo de quinze minutos, utilizado por parte da plateia para dar “aquela espichada”, seja para ir comprar alguma bebida, fumar, ir ao banheiro, etc, isso por volta das 22:13.
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Curioso que haviam dois telões no teatro, que estavam desligados até esse momento, e foram acionados apenas nesse intervalo, para passar um merchan sobre a famosa cerveja do Iron, a Trooper, que inclusive é produzida por uma cervejaria de Curitiba.
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Eis que acabaram se passando exatos vinte minutos até os músicos retornarem para o palco. Bruce voltou e brincou com o público, dizendo “Still here, Why?”, de forma debochada, para então começarem o que foi possivelmente o momento mais emocionante do espetáculo, a perfeita execução de “Tears of the Dragon”.
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Só os primeiros acordes puxados pelo Kaitner Z Doka já causaram certa comoção, aí entrou o vocal do Bruce, a orquestra, e então chegou no marcante refrão, onde se ouviu pela primeira vez na noite a maior potência da voz do Bruce, e não teve jeito, a apresentação chegou noutro patamar, sem dúvida um momento muito especial, conferir esse som ao vivo sendo tocado dessa forma, algo ímpar.
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Mantiveram esse super clima seguindo com “Jerusalem“, que ficou ainda mais épica que a gravação original, com momentos sublimes em que a orquestra se destacou, e outros trechos em que a banda ganhou potência, principalmente a guitarra de Kaitner e a linha de baixo tirada pela Tanya O’Callaghan, e claro, tudo isso permeado pelos vocais do Bruce e sua grande performance, na qual se locomoveu bastante pelo palco interpretando a canção, pediu palmas para o público, e em certo momento até tirou o casaco e ficou balançando no ritmo da canção.
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Ouvir essas duas músicas sendo cantadas pelo Bruce com essa vitalidade faz até pensar que não seria uma má ideia se algum dia em suas “horas vagas”, ele resolvesse retomar a carreira solo para alguns shows por aí focado nesse material.
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Voltando para essa bela noite, ainda teríamos mais algumas doses de Deep Purple, fazendo jus a todo o legado e importância que a banda tem na história. Começou com “Pictures of Home”, um momento com maior peso até então, na qual a orquestra ajudou a criar essa sensação, e que caiu muito bem na voz do Bruce, e ainda contou com aqueles fraseados típicos do Purple, no qual guitarra e teclado “se conversam”, e um breve solo de baixo da Tanya O’Callaghan. Bruce ainda pediu para a plateia levantar, sendo atendido.


Praticamente sem pausa, seguiram com “When a Blind Man Cries“, com todo aquele clima que esse som possui. Mesmo com todos os elementos da orquestra, a textura sonora construída com a guitarra e teclado ficaram em primeiro plano, e foi sensacional poder contemplar a voz do Bruce nesse momento.
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Essa noite única estava enfim se aproximando do final, havendo espaço para mais clássicos serem executados com excelência, como a dançante “Hush”, onde Bruce soltou o seu esperado “screaming for me Curitiba”, sendo prontamente atendido, assim como no pedido de palmas que fez na sequência. Bem legal perceber que em vários trechos “Hush” foi guiada apenas pela banda, porém, nas partes que a orquestra “entrou”, criou uma atmosfera imponente.
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Encerrando de vez a segunda parte, “Perfect Strangers”, outro dos momentos mais marcantes do espetáculo, pois a orquestra favoreceu demais a criação de um ambiente épico, praticamente “hipnótico”, de encher os ouvidos e os olhos.
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Bruce e banda se retiraram do palco brevemente, os músicos da orquestra permaneceram, para logo todos retornarem para o bis e fazerem o público presente presenciar possivelmente a cena mais surreal da noite, algo improvável até pouco tempo atrás, Bruce Dickinson cantando “Burn”, e ainda por cima de uma forma magistral, “tirando onda” com seu alcance vocal, se locomovendo pelo palco, parecendo estar completamente à vontade com essa tarefa. Da parte instrumental da coisa, o baixo da Tanya O’Callaghan e a bateria do Bernard Welz estavam bem claros e pulsantes no meio de todo aquele som.
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Fechando de vez essa belíssima apresentação, como não poderia deixar de ser, “Smoke On The Water”, no maior clima de celebração possível, pois a essa altura, praticamente todo o público já estava em pé, e parte saiu das suas cadeiras e foi para perto do palco. No finalzinho dela Bruce pegou uma batuta e brincou de reger a plateia.
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Assim a noite se encerrou, por volta das 23:40, deixando no ar aquele sentimento do tipo “o que acabamos de presenciar?”, no melhor sentido possível. A propósito, no caso de uma banda como o Deep Purple, com uma obra tão extensa e variada, esse lado mais explicitamente “erudito” pode passar batido por muitas pessoas que se interessam pelo grupo, então é muito bonito ver alguém tão renomado como o Bruce a frente de um projeto como esse, erguendo essa bandeira e celebrando a obra e a memória do Jon Lord. Resta-nos agora imaginar quais outros projetos mirabolantes ele pensará em encarar num futuro, e como ele nos surpreenderá, pois talento e vitalidade sabemos que tem para muito mais.


 

Setlist

Concerto for Group and Orchestra, First Movement: Moderato – Allegro
Concerto for Group and Orchestra, Second Movement: Andante
Concerto for Group and Orchestra, Third Movement: Vivace – Presto
Tears of the Dragon
Jerusalem
Pictures of Home
When a Blind Man Cries
Hush
Perfect Strangers
Burn
Smoke On The Water

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