MEGADETH | Makila Crowley

MEGADETH • 18/08/2016

MEGADETH . REPÚBLICA . 18/08/2016 . Spazio Van . Curitiba/PR
Texto: Jonathan Rodrigues Ev

Fotos: Makila Crowley

 

No dia 18 de agosto, quinta-feira, o Megadeth encerrou a passagem brasileira da turnê de divulgação do mais recente trabalho, “Dystopia”, em Curitiba. O local da apresentação foi o Spazio Van, que não chegou a lotar, mas contou com uma boa quantidade de pessoas. A noite ainda contou com abertura da banda paulistana Republica.

 

Obviamente a boa repercussão obtida com “Dystopia”, a tão falada entrada de Kiko Loureiro para a trupe, além da chegada do ex-Soilwork Dirk Verbeuren na bateria, deixaram as expectativas para o show ainda maiores, e acredite, quem compareceu entendeu porque o Megadeth continua sendo considerado um dos maiores nomes do gênero, e que essa formação e material fortaleceu ainda mais o grupo.

Aquecendo os presentes, diversos clássicos eram executados no som ambiente, coisas como AC/DC, Dio, Van Halen, Accept. Eis que, por volta das 20h 15m, as luzes se apagam e ecoa pela casa “Redemption Day”, interpretada por Johnny Cash, servindo como intro para a Republica, que inicia com “Black Wings”.

Sem pausa, seguem com “Time to Pay”. No final dessa o vocalista Leo Belling diz boa noite para a plateia, agradece a todos pela paciência, fala que espera que curtam o show, que é metal nacional feito com muito carinho. Os guitarristas Luiz Fernando Vieira e Jorge Marinhas trocam suas guitarras e o grupo prossegue com “The Maze”.

Com esses três sons é possível ter noção da pegada da banda, um stoner meio anos 90, com influências de coisas mais recentes, e refrãos grudentos, reforçado pelos backing vocals dos dois guitarristas, merecendo menção também as boas levadas realizas por Mike Maeda na bateria (o que foi visto em “The Maze”, por exemplo), sem falar da boa presença de palco de Leo Belling e do baixista Marco Vieira, que conseguiram cativar o público, e claro, a potência da voz de Leo é algo que se nota com muita facilidade.

Aproveitaram para executar algumas músicas que estarão no próximo trabalho de estúdio, o quarto, como “Stand Your Ground”, “Endless Pain” e “Death for Life”. Antes da saideira, Leo apresenta os músicos, agradece novamente a plateia, e também as produções do Megadeth e Spazio Van. Encerram com “El Diablo”, onde a iluminação ficou predominante vermelha. No começo dessa ocorreu um problema com a guitarra de Luiz, que logo pegou outra e continuou sem maiores percalços.

Uma boa apresentação, que durou exatos quarenta minutos, tempo suficiente para agradar a galera, que aplaudiu e interagiu com a banda durante todo o show. Importante ressaltar que o som estava muito bom, tudo bem audível e claro. No final tiram aquela tradicional foto com o público, jogam palhetas e baquetas. Como ressalva, fica uma crítica ao possível excesso de efeitos wha-wha durante diversos solos de guitarra, que deve ter desagrado quem não é tão entusiasta da sonoridade extraída desse equipamento.

 

Restava aguardar a preparação do palco para o Megadeth, coisa que o público fez com muito entusiasmo. Cada vez que alguma peça do palco era destampada, como a bateria e os telões, ouviram-se berros e gritos de Megadeth, em um momento até mesmo gritos de Kiko.

Finalmente às 21h 37m começa a tocar “Prince of Darkness”, usada como intro para a entrada do Megadeth. Os telões são ligados (o palco possuía cinco, um grande, atrás, bem ao centro, e quatro menores mais a frente, dois no lado esquerdo, e dois no lado direito), e no momento que estes exibem imagem de chamas e o nome do grupo no telão do centro, ocorrem umas “explosões” de fumaça, com os músicos adentrando o palco.

O início não poderia ser mais arrebatador, com ”Hangar 18”, ali já se tem noção de todo o “poder de fogo” dos caras, e de como será um espetáculo intenso, como percebido no trecho final dela, onde Dave Mustaine e Kiko Loureiro se movimentam pelo palco, com Kiko realizando a maior parte dos solos, enquanto os telões criam efeitos “frenéticos”. Começando assim fica fácil ganhar a plateia, e realmente parece ser a escolha mais sensata para inícios de shows, abrir com um dos principais clássicos.

 

Sem muita pausa, emendam a nova “The Threat Is Real”, onde David Ellefson e Kiko fazem backing vocals. Após, Dave Mustaine cumprimenta o público, com um “good evening Curitiba”, e fala, em inglês, que esta noite tocariam músicas novas e músicas antigas, e que a próxima se chama “Tornado of Souls”, bastando ele tocar o riff inicial para o público, quase que literalmente, estremecer o local. Pessoalmente, um dos grandes momentos da noite, numa ótima performance, grande “quebraceira” de Dirk Verbeuren, um belo solo de Kiko mais para o final, e ainda fortalecida pelas imagens do telão, que variavam entre o que parecia animações dentro de um tornado e relâmpagos.

 

A grandiosa estrutura do palco merece destaque. Como dito anteriormente, composto por cinco telões, que exibiram sempre imagens e efeitos velozes (vários “frames por segundo”, por assim dizer), iluminação bem trabalhada, em alguns momentos tão veloz quanto as imagens nos telões, e mesmo a estrutura como um todo é bem interessante, com a bateria de Dirk num elevado consideravelmente alto. Imagino que não seja um espetáculo recomendado para quem sofre de labirintite, vertigem, ou algo relacionado a isso, pois pense só no efeito que essa combinação de imagens, luzes e som veloz pode causar.

 

A banda prossegue com “Poisonous Shadows”, dando uma acalmada nos ânimos, contendo um andamento mais cadenciado, com direito a teclados pré-gravados, e um solo de Kiko bem característico. No trecho final dessa, parece ter sido utilizado um efeito de eco na voz de Mustaine.

 

Em seguida, “Wake Up Dead”, na qual Mustaine realiza os solos, anda de uma ponta a outra do palco, e sem pausa emendam “In My Darkest Hour”, que ficou sem a introdução contida na versão original do álbum “So Far, So Good… So What!”, começando direto no riff, contando com uma iluminação predominantemente azul escuro. No final é exibida uma imagem no telão de duas mãos segurando o planeta Terra, um dos poucos momentos onde foi exibida uma imagem por vários segundos de forma estática. Em ambas houveram trechos onde Dirk detonou no bumbo duplo.

 

A noite segue com “Conquer or Die!”, hora totalmente focada em Kiko, que faz a intro do som com um violão. O público aproveita esse trecho para gritar de forma intensa o nome do guitarrista. Na sequência, Mustaine fala “bass guitar, David Ellefson”, dando a deixa para este fazer a intro de “Fatal Illusion”. Pessoalmente, a faixa do “Dystopia” que melhor funcionou ao vivo, principalmente na parte que se tem o som do aparelho de monitoramento de sinais vitais em diante, onde ocorreram mais efeitos com fumaça, e o telão exibiu aquele risquinho mostrado nesse tipo de aparelho.

 

“She-Wolf” é a próxima, mais uma daquelas que bastou Mustaine executar o começo do riff inicial para causar grande comoção nos presentes. E como esse som funciona bem ao vivo, com o refrão potencializado com os backing vocals de David e Kiko. Como não poderia deixar de ser, em meio a diversas imagens nos telões, várias de lobos.

 

A propósito, a qualidade do som durante toda a apresentação estava muito boa, sendo possível perceber as várias nuances dos instrumentos, tal como na bateria “metralhadora” de Dirk Verbeuren. Inclusive Dave Mustaine cantou trechos de diversas músicas nos microfones de David e Kiko, o que de certa forma é um tanto inusitado, e a qualidade da voz estava igual ao do microfone principal.

 

Continuando, uma dobradinha do “Rust in Peace”, ainda que não na mesma ordem do disco, “Dawn Patrol”, apenas com Dirk e David no palco, com os vocais pré-gravados, obviamente focada no baixo, e “Poison Was the Cure”, com todos no palco, composta de muito peso e velocidade.

 

A “brincadeira” prossegue com “Sweating Bullets”, na qual é exibido no telão fotos antigas de perfil mostrando diversos rostos, não faço ideia de quem eram, mas ao julgar pela letra, talvez foto de presidiários, apesar de não estarem com roupas de prisioneiros. Nessa é possível conferir mais um trabalho de guitarras interessantíssimo realizado por Mustaine e Kiko.

 

Apenas com Mustaine e Kiko no palco, Kiko faz as primeiras notas de “A Tout Le Monde”, então Mustaine pergunta, em inglês, se o público conhece essa música, e pede para ajudarem ele a cantar. Claro que é atendido. A propósito, ele canta boa parte da canção no microfone do David, que usa o microfone do centro do palco para fazer o vocal de apoio no refrão. Um grande momento da apresentação, e talvez a música que tenha ficado mais diferente da versão de estúdio.

 

Sem pausa para respirar, emendam “Trust”, que contou com uns efeitos pré-gravados, e umas animações bem peculiares, como a de um olho espiando por uma fechadura de porta.

 

Na sequência, o show acaba “esfriando” um pouco, com dois sons do “Dystopia”. Primeiro, “Post American World”, anunciada por Mustaine como uma música que muitas pessoas não entenderam, complementando com ele estendendo os braços e dizendo “eu não dou a mínima”. Uma música mais cadenciada, que também contou com alguns efeitos de eco na voz de Mustaine. Em seguida, a faixa-título do “Dystopia”, realmente não entendi qual era a intenção do grupo ali. Ao vivo parece ainda mais um remake genérico de “Hangar 18”, a mesma estrutura, final com solos muito semelhantes, inclusive usaram praticamente o mesmo efeito de fumaça da abertura. Assim fica difícil não associar com o clássico do “Rust in Peace”.

O espetáculo chegava à reta final, mas ainda restavam algumas das músicas mais aclamadas, começando por “Symphony of Destruction”, que como de praxe, a plateia canta “Megadeth” por cima do riff. Logo David inicia a grande linha de baixo de “Peace Sells”, causando ainda mais comoção nos presentes. Nem se tem mais o que falar, pessoalmente o ápice da apresentação. Ah, tem sim, “Peace Sells” contou com uma participação muito especial, o mascote do grupo, Vic Rattlehead, adentra o palco no trecho final, andando e fazendo gestos enquanto Mustaine canta o trecho “Peace sells, but who’s buying?”.

 

Assim o grupo se retira, após uma hora e vinte minutos de intensa performance. Mal se passa um tempo suficiente para que o público gritasse “Megadeth” e “Mustaine”, e eles voltam, para encerrar de vez com “Holy Wars… The Punishment Due”. Mustaine trocou de guitarra, usando uma decorada com a arte da capa do “Rust in Peace”. Não é necessário dizer que bastou o riff inicial para o local ir abaixo. Nesse momento se formam moshs maiores na plateia, até então não estiveram presente em grande quantidade. No finalzinho dela Mustaine apresenta a banda, com Kiko sendo o mais aclamado pelo público.

 

Desta forma este grande espetáculo chegava ao fim. O telão do centro exibia a palavra obrigado em diversos idiomas. Ao som de “Silent Scorn” nos PAs, os quatro chegam na frente do palco, se despedem do público, atiram palhetas, baquetas, e as munhequeiras personalizadas com o nome do grupo que todos usaram. Após muitos aplausos, se retiram de vez, as luzes se acendem, enquanto “My Way”, na versão de Sid Vicious, era tocado ao fundo, dando um clima de final de filme de Scorsese.

 

Uma bela noite. Muitos podem ter estranhado o fato de Kiko Loureiro não ter falado com o público em nenhum momento, visto que apenas Dave Mustaine se comunicou verbalmente. A propósito, ele usou dois modelos de guitarra durante a apresentação, provavelmente as mesmas que ele utilizava no Angra. Cabe ainda uma crítica ao Spazio Van, pois tiveram a coragem de fazer a pista premium muito maior que a pista comum, ocupando bem mais que metade do espaço, capaz de beirar dois terços, o que não me soa nada “premium”. Sem falar que ela não lotou por completo, então quem assistiu da pista comum ficou ainda mais longe que o necessário. Resta torcer para essa bizarrice não virar lugar comum.

 

Para encerrar, fiquem com uma curiosidade inútil: Dave Mustaine postou um tweet agradecendo o público brasileiro pelos maravilhosos shows que tiveram por aqui, e disse que Curitiba foi o que teve o público mais barulhento.

 

SETLISTS

REPUBLICA

Black Wings
Time to Pay
The Maze
Stand Your Ground
Life Goes On
Endless Pain
Death for Life
El Diablo

 

MEGADETH
Hangar 18
The Threat Is Real
Tornado of Souls
Poisonous Shadows
Wake Up Dead
In My Darkest Hour
Conquer or Die!
Fatal Illusion
She-Wolf
Dawn Patrol
Poison Was the Cure
Sweating Bullets
A Tout Le Monde
Trust
Post American World
Dystopia
Symphony of Destruction
Peace Sells
Holy Wars… The Punishment Due

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