MOONSPELL | Makila Crowley

MOONSPELL • 26/09/2015

MOONSPELL & SEMBLANT. 26/09/2015 . Music Hall . Curitiba/PR

Texto: Jonathan Rodrigues Ev
Fotos: Makila Crowley

 

No dia 26 de setembro, sábado, os portugueses do Moonspell se apresentaram em Curitiba, sendo a primeira passagem do grupo pela capital paranaense. Divulgando seu trabalho mais recente, “Extinct”, a turnê brasileira contou com quatro shows em quatro dias. No dia anterior, tocaram no palco Sunset do Rock in Rio, e depois de Curitiba, seguiram para São Leopoldo (27/09), e São Paulo (28/09).

            O show ocorreu no Music Hall, local relativamente pequeno, podendo ser dito tranquilamente que a casa inteira é uma “pista vip”, o que deixa os shows com um toque mais intimista, e todo o público numa enorme proximidade com os músicos. Mesmo pequena, a casa não lotaria, com a pista ficando até o fim da noite mais ou menos (mais para menos) preenchida pela metade.

            A abertura do Music Hall estava marcada para 19h, porém, a plateia adentrou o local apenas às 20h 30m. O show de abertura ficou a cargo da banda curitibana Semblant, que começou pouco antes das 21h. Não poderia ter outra escolha que se encaixasse melhor no clima da noite, visto que o grupo mostrou por cerca de cinquenta minutos seu material próprio, mandando um repertório energético e cheio de peso, realizando, como a própria banda define, um Dark / Gothic / Vampiric Metal, esse último devido a temática de muitas das suas letras abordarem estas criaturas míticas.

Começaram com “Incinerate” e “Dark of the Day”, que são as duas faixas iniciais do mais recente trabalho da banda, “Lunar Manifesto”, lançado em 2014. Ali já é possível perceber qual é a “onda” do grupo, que aposta em vocais guturais agressivos realizados por Sergio Mazul, que são divididos com potentes, e por vezes doces, vocais femininos da Mizuho Lin, tudo isso permeado por pesadas guitarras de Juliano Ribeiro e Sol Perez, e com teclados atmosféricos de J. Augusto, sem esquecer o baterista Thor Sikora. Como curiosidade, realizaram essa apresentação sem baixista, e mesmo assim, não ficou aquela sensação de que estava faltando algo, pois utilizaram samplers para suprir o som do instrumento.

Seguindo, Mizuho fala como o Moonspell é uma das maiores influências da Semblant, que inclusive costumavam tocar algumas músicas deles, para então anunciar que a próxima música tem um clipe, e que este está com mais de 50 mil visualizações no YouTube. Nisso, o público aplaude, e a banda inicia a execução de “What Lies Ahead”, um som um pouco mais “light”, por assim dizer. “The Shrine” vem em seguida, merecendo menção os vocais de Sergio, e os duetos entre ele e Mizuho, além dos bons trabalhos de guitarras.

            Destaque ainda para “Bursting Open”, na qual Mizuho brinca dizendo se tratar de uma balada, onde Sergio utiliza praticamente apenas vocais limpos, o que funcionou muito bem, com Mizuho pedindo para a plateia bater palmas no começo, acompanhando a música, e “Beautiful Carnage”, uma das poucas tocadas nesta noite que não é do “Lunar Manifesto”.

Grande apresentação, potencializada com o bom som, pois todos os instrumentos e vozes estavam bem claros. Sobre a iluminação existente no palco do Music Hall, esta é bem simples, e no caso da Semblant, acabou deixando o tecladista e um dos guitarristas no escuro, pois estavam mais nas extremidades no palco, onde não chegava nenhum foco de luz direto neles. Enfim, os músicos se despedem, Sergio agradece a presença de todos, e anuncia: “fiquem agora com a maior banda de metal portuguesa”.

A preparação do palco levou cerca de trinta minutos, eis que, às 22h 11m, o Moonspell inicia sua apresentação, com duas composições do “Extinct”, “Breathe (Until We Are No More)”, e a faixa-título. Ao final delas, o vocalista Fernando Ribeiro cumprimenta os presentes com um “olá Curitiba, Paraná”, e agradece o público, dizendo “obrigado pela gentileza”, frase que ele falaria diversas vezes durante o show. Esse seria um dos pontos fortes do grupo, facilitados pelo idioma, a comunicação de Fernando com o público. Não poupou nem mesmo nos elogios a Curitiba, falando que alguns amigos comentaram como é legal tocar ali. Sem dúvida, o show ganhou um toque a mais com essa interação.

            Continuam com “Finisterra” e “Night Eternal”. Com essas músicas, se torna possível constatar o que acabaria ocorrendo na apresentação inteira: a banda executa seu repertório de forma parecidíssima com as gravações de estúdio, porém, acrescentando mais peso em diversas passagens, tanto que são poucas as músicas que utilizam algum recurso de som pré-gravado para dar uma “amaciada”, que ficam em segundo plano.

“Opium” é a próxima, tendo a maior reação do público até então, pessoalmente, um dos grandes momentos da noite. De certo modo, fica óbvio, para quem já presenciou uma performance do Moonspell, como toda a banda é extremamente competente em sua proposta, mas ainda assim, deve-se mencionar como Fernando é um exímio vocalista, alternando diversos tons e formas de cantar, interpretando as canções, e passando com maestria essa energia para a galera.

            Outros bons momentos foram as novas “The Last of Us”, que parece ter vinda direta de alguma garagem gótica da década de 80, e a grandiosa “Domina”, com excelente performance de Fernando, que praticamente se ajoelhou cantando, e ótimo solo do guitarrista Ricardo Amorim, que também realizou backing vocal nessa. Aliás, vale mencionar que o baixista Aires Pereira interagiu com o público diversas vezes, pedindo palmas, balançando a cabeça, movimentando o baixo, entre outras ações nessa linha.

            Mantendo o espírito do palco Sunset do Rock in Rio (que inclusive, foi citado por Fernando, falando que esse show seria maior que o apresentado no festival), que proporciona parcerias entre artistas, Fernando anuncia que a próxima música terá participação de um convidado, chamando a Mizuho da Semblant, para executarem a “balada gótica” “Scorpion Flower”. Um momento memorável, realmente único, daqueles que “quem viu, viu”, onde todos mandaram bem.

            Mizuho deixa o palco, sendo bastante, e merecidamente, aplaudida, para o Moonspell continuar com “Em Nome do Medo”. Nesse som, Ricardo Amorim troca de guitarra, que permaneceria até o fim do show. Assim como na apresentação da Semblant, o som estava bom, com tudo bem audível. A iluminação estava igual ao do show de abertura, mas com o posicionamento dos integrantes, ninguém ficou em algum ponto escuro. E mesmo simples, o show ficou com um visual bem bacana, pois, para incrementar o lado cênico, o grupo usou um plano de fundo, além de Fernando usar um pedestal diferenciado para o microfone, e o teclado de Pedro Paixão ter o que parece ser uns tubos de órgão para decoração, sem falar que houve alguns efeitos com fumaça. Ficou faltando a “cabeça” de bode na bateria de Miguel Gaspar, que foi utilizada no Rock in Rio.

Prosseguem com “Vampiria”, e “Ataegina”, essa com o auxílio de um instrumento de sopro pré-gravado, criando um ritmo de música tradicional portuguesa, e que soou muito bem. Por fim, Fernando pede para todos fingirem que a próxima seria a última música, já que depois ainda teria o bis, agradece, e pede uma salva de palmas para o público que compareceu, para anunciar, nas palavras dele, “uma canção de 1995, que encerra o álbum “Wolfheart”, e que talvez seja a canção mais emblemática dos Moonspell”. Ele estava se referindo a “Alma Mater”, e para ficar nas palavras dele, digo apenas que foi emblemático, com o teclado “guiando” a atmosfera do som. No final dela, Fernando enche a boca com água, e a esguicha para cima. Assim, todos deixam o palco, sob aplausos e gritos.

            Três minutos se passam, e os músicos voltam, com gritos de “olê, olê olê olê, Moonspell, Moonspell”. Tocam “Everything Invaded”, onde acabou ocorrendo um problema na guitarra de Ricardo, que teve uns chiados lá pelo final do som, algo que não chegou a prejudicar tanto, e logo foi resolvido. Fernando novamente agradece a presença de todos, que vieram prestigiar a banda, que compraram ingresso, pois disse saber que estamos passando por uma crise no país. Em seguida, pede palmas para a Semblant, elogiando o grupo, dizendo: “com quem tivemos o privilégio de dividir o palco hoje”.

Para encerrar de vez, Fernando comenta que a música que irão tocar, “Full Moon Madness”, é como um ritual para o grupo, e convida todos a participarem. Durante o solo de guitarra, Ricardo vai para o centro do palco, e Fernando pega duas baquetas, para “bater” em alguns pratos da bateria. Dessa forma, num clima um tanto melancólico, o Moonspell encerra sua apresentação, que durou 1h 40m.

            Ao deixarem o palco, todos cumprimentam as pessoas que estavam próximas. O grupo ainda permaneceria no Music Hall, e depois de algum tempo, foram atender os fãs que ficaram no local, autografando itens, tirando fotos, enfim, trocando ideias. Uma grande noite, e como o próprio Fernando disse no final: “até a próxima Curitiba, espero que não leve mais 23 anos”. Apostaria fortemente que a maioria dos que compareceram concordam.

 

Setlists

 

SEMBLANT

Incinerate
Dark of the Day

What Lies Ahead
The Shrine
Mists Over the Future
Bursting Open
Beautiful Carnage
Throw Back to Hell

 

MOONSPELL

Breathe (Until We Are No More)
Extinct

Finisterra
Night Eternal
Opium
Awake!
The Last of Us
Medusalem
Nocturna
Domina
Scorpion Flower
Em Nome do Medo
Vampiria
Ataegina
Alma Mater
Everything Invaded
Full Moon Madness

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